Entrevista : Genivaldo Bazilio
Eu
nasci em 25 de março de 1961, iniciei minha vivência com o teatro com 14 anos
de idade num curso em uma escola pública Estadual no bairro de Jardim Brasil.
No entanto meu relacionamento com a arte popular (rodas de ciranda), o coco de roda, o mamulengo e o pastoril, se deu
muito antes em peixinhos e campina do Barreto, onde morei na infância.
1- O
que o teatro representa hoje para você?
R- O teatro se confunde em minha vida e com a minha vida.
A arte é talvez meu indispensável elo de ligação com tudo o que faço, que sou e
que sonho para a minha visão de mundo. Eu sou um ser artístico e não consigo
imaginar uma existência sem tudo isso que me faz um ser.
2- O
teatro deixou de ser político para ser panfletário ou não?
R- Nenhuma produção humana pode fugir de
ser política, porque mesmo quando não há a intenção de ser já está sendo, pois
o teatro é uma das mais importantes e influentes produções do conhecimento e do
sentimento humano. Porque refleti as circunstâncias da conjuntura em que está
sendo construído, criado e produzido. Portanto mesmo panfletário ou imensamente
lúdico, será sempre a expressão do desejo e do sentimento político de sua época
e do meio ao qual pertence seus atores.
3- A
concepção do teatro de rua hoje em comparação com antigamente mudou muito?
R- Mudou, Porque a natureza está em constante movimento
de transformação, alias a natureza, não é um conjunto das coisas criadas e sim
o principio transformador das coisas, e o teatro faz parte do que chamamos de
arte. E a arte transforma o principio transformador das coisas, segundo
Aristóteles. Que foi interpretado por Augusto Boal, e decifrado em técnicas
para o mundo todo. Hoje a sátira da lugar ao questionamento, a denúncia, e a
reflexão. E esse sistema capitalista tão complexo, que antigamente nos impunha
algumas parcerias de estratégia de sobrevivência, deixa a desejar.
4- O
que você entende sobre esse texto de stanislavsk ,
quando ele diz: “primeiro ame a arte em você, depois você na arte”?
R- Compreendo que
é primordial viver a arte da natureza, que teorizar sobre a natureza da arte.
5- O
que você diria para aqueles jovens, que sonham em ser modelos, atrizes, atores,
e quem sabe fazer novelas?
R- Para o sonho
não se deve ter limites, no entanto, o que se estabelece como dimensão do
sonho, deve-se relacionar a necessidade de transformação das circunstancias que
separam este sonho da realidade.
6- Você
acha que todo jovem deveria começar dentro do teatro de rua?
R-
Acho que ninguém deve trilhar qualquer caminho, que não faça parte de
sua crença, portanto de sua visão de mundo,porém aos que escolherem o teatro de
rua, acho que devem fazê-ló, com muito respeito e responsabilidade. Porque é um
caminho que trilharam muitos revolucionários, e ser revolucionário não é coisa
tão simples. Nada tem haver com uma decisão mercantil ou utilitária. É uma
tomada de posição político ideológica.
7- O
que diferencia o teatro dito de rua, para o teatro de uma caixa cênica?
R- A caixa
reproduz a divisão de classe, a luz da visão da classe dominante com o palco, e
seus planos hierárquicos tal qual o nível de protagonismo em sua dramaturgia
estética. A rua é o nivelamento com o artista e a platéia no mesmo nível e em
condições iguais, é mais próximo do ditirambo da prática emancipatória e
libertadora da convivência democrática que sonhamos e sempre acreditamos ser
possível. Que é construir na sociedade o porque da rua ser assim. E que regras
podem ser impostas na rua, se não a do acordo, da negociação, e do consenso com
os agentes participantes da ação.
8- Você
acha, que a interpretação no palco, e a interpretação numa rua, tem um impacto
muito grande para um ator? Principalmente quando está no começo?
R- O ator de
formação burguesa certamente treme das bases com a proximidade do público, porque
é está sua formação, é sua experiência de vida. A este ou esta, o palco servira
para evitar o contato direto. Agora para o ator de rua: o bêbado, a prostituta,
o menino de rua, o camelô, e o animal que cruza a cena, são realidades naturais
do cotidiano de quem trabalha com essa linguagem cênica. Sendo assim não terá
tanto impacto, pela própria classe que ele se encontra, e pelo meio social do
qual ele veio. O palco para esse tipo de ator, talvez reprimisse a natureza da
dramaturgia viva e dinâmica no qual é a rua. Mais ai depende de que tipo de
ator estamos falando.
9- Que
texto você recitaria agora, para terminar a conversa?
R- Lembraria aqui
a imagem simples porem contundente de “Cafuringa” numa roda de espectadores
tendo ao seu colo o negrão, o seu boneco ventríloquo em frente a igreja do
Carmo e ao seu redor: desempregados, prostitutas, comerciários, senhoras
casadas ou solteiras, bêbados, meninos felizes, com seu recipiente de cola a
ofuscar seus sorrisos e eu ali, como seu fã e admirador, sonhando com um mundo
plural, justo, como ali naquele ambiente, onde, a poesia, supera e abate com
golpe de felicidade o preconceito e a hipocrisia.
“Não reconheço fim, porque esta palavra não merece meu
respeito, nem tem a aprovação da natureza que aprendi a seguir e ter como
referência na minha visão de mundo”.
Ator e jornalista- Victor Hugo
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