quinta-feira, 9 de maio de 2013

ENTREVISTA CONCEDIDA AO PROJETO TEATRO POR GENIVALDO BAZILIO








Entrevista : Genivaldo Bazilio
Eu nasci em 25 de março de 1961, iniciei minha vivência com o teatro com 14 anos de idade num curso em uma escola pública Estadual no bairro de Jardim Brasil. No entanto meu relacionamento com a arte popular (rodas de ciranda), o  coco de roda, o mamulengo e o pastoril, se deu muito antes em peixinhos e campina do Barreto, onde morei na infância.
1-    O que o teatro representa hoje para você?
R- O teatro se confunde em minha vida e com a minha vida. A arte é talvez meu indispensável elo de ligação com tudo o que faço, que sou e que sonho para a minha visão de mundo. Eu sou um ser artístico e não consigo imaginar uma existência sem tudo isso que me faz um ser.
2-    O teatro deixou de ser político para ser panfletário ou não?
      R- Nenhuma produção humana pode fugir de ser política, porque mesmo quando não há a intenção de ser já está sendo, pois o teatro é uma das mais importantes e influentes produções do conhecimento e do sentimento humano. Porque refleti as circunstâncias da conjuntura em que está sendo construído, criado e produzido. Portanto mesmo panfletário ou imensamente lúdico, será sempre a expressão do desejo e do sentimento político de sua época e do meio ao qual pertence seus atores.
3-    A concepção do teatro de rua hoje em comparação com antigamente mudou muito?
R- Mudou, Porque a natureza está em constante movimento de transformação, alias a natureza, não é um conjunto das coisas criadas e sim o principio transformador das coisas, e o teatro faz parte do que chamamos de arte. E a arte transforma o principio transformador das coisas, segundo Aristóteles. Que foi interpretado por Augusto Boal, e decifrado em técnicas para o mundo todo. Hoje a sátira da lugar ao questionamento, a denúncia, e a reflexão. E esse sistema capitalista tão complexo, que antigamente nos impunha algumas parcerias de estratégia de sobrevivência, deixa a desejar.
4-    O que você entende sobre esse texto de stanislavsk , quando ele diz: “primeiro ame a arte em você, depois você na arte”?
R-  Compreendo que é primordial viver a arte da natureza, que teorizar sobre a natureza da arte.
5-    O que você diria para aqueles jovens, que sonham em ser modelos, atrizes, atores, e quem sabe fazer novelas?
R-  Para o sonho não se deve ter limites, no entanto, o que se estabelece como dimensão do sonho, deve-se relacionar a necessidade de transformação das circunstancias que separam este sonho da realidade.
6-    Você acha que todo jovem deveria começar dentro do teatro de rua?
       R-  Acho que ninguém deve trilhar qualquer caminho, que não faça parte de sua crença, portanto de sua visão de mundo,porém aos que escolherem o teatro de rua, acho que devem fazê-ló, com muito respeito e responsabilidade. Porque é um caminho que trilharam muitos revolucionários, e ser revolucionário não é coisa tão simples. Nada tem haver com uma decisão mercantil ou utilitária. É uma tomada de posição político ideológica.
7-    O que diferencia o teatro dito de rua, para o teatro de uma caixa cênica?

R-  A caixa reproduz a divisão de classe, a luz da visão da classe dominante com o palco, e seus planos hierárquicos tal qual o nível de protagonismo em sua dramaturgia estética. A rua é o nivelamento com o artista e a platéia no mesmo nível e em condições iguais, é mais próximo do ditirambo da prática emancipatória e libertadora da convivência democrática que sonhamos e sempre acreditamos ser possível. Que é construir na sociedade o porque da rua ser assim. E que regras podem ser impostas na rua, se não a do acordo, da negociação, e do consenso com os agentes participantes da ação.

8-    Você acha, que a interpretação no palco, e a interpretação numa rua, tem um impacto muito grande para um ator? Principalmente quando está no começo?
R-  O ator de formação burguesa certamente treme das bases com a proximidade do público, porque é está sua formação, é sua experiência de vida. A este ou esta, o palco servira para evitar o contato direto. Agora para o ator de rua: o bêbado, a prostituta, o menino de rua, o camelô, e o animal que cruza a cena, são realidades naturais do cotidiano de quem trabalha com essa linguagem cênica. Sendo assim não terá tanto impacto, pela própria classe que ele se encontra, e pelo meio social do qual ele veio. O palco para esse tipo de ator, talvez reprimisse a natureza da dramaturgia viva e dinâmica no qual é a rua. Mais ai depende de que tipo de ator estamos falando.
9-    Que texto você recitaria agora, para terminar a conversa?
R-  Lembraria aqui a imagem simples porem contundente de “Cafuringa” numa roda de espectadores tendo ao seu colo o negrão, o seu boneco ventríloquo em frente a igreja do Carmo e ao seu redor: desempregados, prostitutas, comerciários, senhoras casadas ou solteiras, bêbados, meninos felizes, com seu recipiente de cola a ofuscar seus sorrisos e eu ali, como seu fã e admirador, sonhando com um mundo plural, justo, como ali naquele ambiente, onde, a poesia, supera e abate com golpe de felicidade o preconceito e a hipocrisia.
“Não reconheço fim, porque esta palavra não merece meu respeito, nem tem a aprovação da natureza que aprendi a seguir e ter como referência na minha visão de mundo”.
Ator e jornalista- Victor Hugo


       


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